A fronteira agrícola, aliada com o desmatamento em áreas de preservação permanente (APP), pode provocar a seca do Rio Araguaia, segundo o delegado responsável pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), Luziano de Carvalho. A afirmação ocorreu durante o programa Jackson Abrão Entrevista de segunda-feira (19).
A fronteira agrícola não está agora só em Goiás. O homem está desmatando onde não pode. Produzir em APP é fazer o uso nocivo de propriedade e isso está errado. Não se pode fazer drenos em APPs, como está acontecendo” explicou o delegado.
Além de Goiás, o Rio Araguaia está localizado em outros quatro estados brasileiros. São eles: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Ele é o 13º em maior extensão no País, com 2.114 km e área total de 385 mil quilômetros quadrados (km²). Destes, 77% estão no Cerrado e os outros 23% no bioma Amazônia.
Com o desmatamento, conforme Luziano, vêm as consequências como a diminuição da infiltração de água, que gera o assoreamento do rio. Assim, o clima fica mais quente, o ar fica mais seco e formam as erosões.
Consequentemente, formam-se voçorocas e o assoreamento dos mananciais, dos afluentes e do próprio Rio Araguaia [...] O produtor rural não pode ser vilão, ele tem que ser um autor na mudança dessa realidade triste que temos, que é a destruição do Rio Araguaia”, afirma o delegado.
Impactos do dreno
De acordo com o delegado, quando há uma área de preservação permanente, e a água armazenada ali é drenada pelo homem, toda aquela região pode secar, e as consequências chegam ao rio.
Vem o homem e faz um rasgão ali, um canal, um dreno e seca. Secou a área, consequentemente vai secar toda a região, o manancial ao qual ela abastece e as consequências é na bacia, é no Rio Araguaia”, afirma o delegado.
O mesmo acontece com os lagos e lagoas naturais. Por esse motivo, Luziano afirma que a Polícia Civil realiza a operação “Drenos em Goiás, Nunca Mais”.
Tem canais que ligam ou interligam uma lagoa na outra, são várias até chegar num tributário do Rio Araguaia, se secou aquela área ali, seca tudo. Isso é destruição, isso é suicídio ecológico. É o momento de reflexão e ações práticas. Que não se faça mais drenos em Goiás”, ressalta o delegado.
Loteamentos clandestinos
Outro problema citado por Luziano são os loteamentos clandestinos que, segundo ele, é complexo porque estão justamente nas matas ciliares.
Cada um acha no direito de fazer um rancho, uma casa e até mansões na bacia do Rio Araguaia. Além de ser crime ambiental, é um crime contra a administração pública. A população precisa parar urgentemente de comprar lotes irregulares”, afirma o delegado.
Recuperação
Para Luziano, mesmo com o alto índice de destruição, é preciso acreditar, não aceitar o que está acontecendo com o Rio Araguaia e juntos todos trabalhar para reverter esse quadro.
Temos que proteger o meio ambiente. Não é para mim é para todos. É fazer o bem para todo mundo, para todas as gerações. Isso é muito sério. Todos nós, juntos, vamos recuperar o Rio Araguaia, vamos revegetar, vamos estabilizar todas as voçorocas e fechar os drenos. Nossa esperança é que todos protejam esse rio mais importante do coração desse país”, explica o delegado.